Eu ri muito outro dia por causa dos comentários entusiasmados sobre o assobio no blog de um amigo. Isso porque, segundo o autor, este não era o tema do texto.

É interessante perceber que a realidade não é dada e sim construída pelo sujeito na medida em que o mesmo a percebe e com ela interage. O elemento subjetivo é imprescindível na visão de mundo; só não há uma esquizofrenia coletiva porque existe a linguagem que possibilita que as representações particulares sejam acessíveis e as visões de mundo intercambiáveis.

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Para complicar, convém lembrar que são inusitados e sinuosos os caminhos da língua. Ressalto que, ao menos quando a escrevi, a frase anterior não tinha nenhuma conotação erótica.

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Deparei-me com um termo novo: Estética da Recepção, que trata da importância do receptor da mensagem enquanto parte construtiva da mesma, na medida em que traz consigo elementos subjetivos e exteriores à obra que são agregados na sua interpretação. Acreditava que os casos de falha na comunicação seriam causados apenas por erros na construção frasal ou na compreensão (leia-se compreensão, ok ?). Ledo engano, nenhuma obra é imanente, nenhum texto basta em sí: jamais é monólogo, diálogo se impõe.

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Há, portanto, uma relação peculiar de cada leitor com o texto, na medida em que o significado não é meramente extraído, mas buscado de forma complexa num processo de recriação em que o jogo subjetivo de recepção pode configurar a própria desconstrução do texto (a la Jacques Derrida).

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Essa percepção individual e exclusiva do texto fica muito evidente quando assistimos à adaptação de um livro a filme, sempre paira com a impressão de que “não era bem assim”. Isso porque ficamos reféns de uma interpretação que nos é imposta, tal qual uma visão conclusiva, ortodoxa, que, obviamente diverge da nossa, portanto é uma verdade duvidosa.

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Por outro lado, já que nossa bagagem pessoal interfere na percepção e que não somos sujeitos coagulados, é impossível ler o mesmo livro (da mesma forma) mais de uma vez.

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Dessa forma, fica ainda mais evidente a importância da Hermenêutica e o equívoco de Hans Kelsen ao enunciar que na clareza do texto, cessa a interpretação. Existe uma esfera de lingüisticidade do conhecimento e a interferência da perspectiva individual, daí a existência de múltiplas interpretações e a impossibilidade de se extrair uma verdade última dogmática (em se tratando de textos jurídicos, a chamada vontade do legislador).

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Tanto assim, que um ministro do Supremo (num lampejo de lucidez) afirmou: “As decisões e interpretações do STF não são definitivas porque são corretas, são corretas por serem definitivas”. Nem este privilégio, vocês me dão, me acalenta poder fazer o mesmo com vossos comentários.

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E eu que achava que aqui, no meu blog, o mundo girava ao meu redor e o meu ponto de vista era a referência (egocentrismo ingênuo esse meu). Nem vou me dar ao trabalho de escrever uma frase bem construída para concluir o texto e cada que entenda como bem desejar, afinal, parafraseando Jorge Luís Borges, eu sou apenas a autora…